Uma carta cheia de saudades

Acho que estou repetindo um padrão antigo,  uma saudade com cheiro de mofo...  Eu gostaria de dizer tanta coisa,  mas os acontecimentos passados me travam.  Além disso, não somos mais as amigas que éramos por motivos diversos.
O primeiro era que cheguei em um ponto da vida em que eu precisava de uma outra forma de amizade,  um tipo de carinho que eu nem sabia que poderia ter. Não sabia pois todos os nossos amigos seguiam um padrão que já não me atendia.
O outro foi que nós mudamos.  Hoje vejo que mudamos muito,  o que forçou essa ruptura. Eu não sou mais a garota que passava a noite na boate dançando,  bebendo e fazendo merda.  E nem você.  Nos tornamos mulheres com hábitos diferente com um passado em comum.
Mas ainda dói para mim não estar ao seu lado para lhe ajudar na sua dor.  E eu sei como é onde dói. 
Nossas caminhadas foram cheias de tropeços e era confortável saber que eu poderia me abrir sem me sentir vulnerável.  Não que eu não tenha amigos hoje com quem me abra. Mas é que a gente tinha contexto.
Pode parecer estranho,  mas a gente tinha um puta contexto que me economizava explicações.  A gente era e,  perdoe-me a palavra,  foda-se. Isso deixava a nossa amizade com um  quê libertador que nuca mais encontrei. 
Encontrei alguns parecidos,  mas nenhum igual.  Eu amava o nosso contexto.
A gente dividia as coisas com uma bobeira adolescente e também com uma tristeza que só a gente parava para notar. Éramos duas almas com um contexto libertador.

E eu sinto falta disso.

Sinto falta do tom da sua voz me repreendendo. Sinto falta das discussões.  Das risadas. Dos abraços.

Hoje encontro suas antigas qualidades despedaçadas em pessoas diferentes. Até o seu cheiro já senti em pessoas na rua.

E hoje temos a distância para compartilhar.  É ela que nos une.  Engraçado, né?  Foi uma dificuldade para virarmos amigas e agora o que nos uniu é o que nos separa.

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