Considerações do dia de hoje

Parte 1

Agora eu tenho um caderno. Sim, por mais irônico que possa parecer para quem me conhece, já que meu hobbie é justamente fazer cadernos, agora eu tenho um caderno para as trivialidades que passam na minha cabeça.

No início ficava olhando as páginas em branco (na verdade são amareladas) e dava quase um medo de sujá-las com qualquer besteira. Acho que ainda guardo dentro de mim aquela preciosismo do momento kodak, de guardar instantes que valerão a pena.

Até que um dia liguei o ____-se e comecei. Fiz um desenho bem grotesco de uma capa de mochila que estou planejando. Mas pulei a primeira página. Agora pensando em minhas ações parece que o medo ainda imperava, os rabiscos tem que ficar bonitos porque "vai que alguém pega pra ver". Aí fui na primeira página e escrevi meu nome, tal qual uma adolescente iniciando um diário.

Passado algum tempo, o caderno é um reflexo de sua dona: todo imperfeito mas com um certo charme. (hahaha). Tem músicas que gostei, trechos de filmes (ainda que muito mal traduzido) e um desenho da minha futura tatuagem, que surgiu meio que no tédio do acaso - ou seria no acaso do tédio?

Sei lá, não importa. O que importa - o que realmente importa - é que agora eu tenho um caderno.


Parte 2

Relendo o post "recordação" acabei o conectando com um pensamento que tem martelado minha cabeça nos últimos dias, principalmente após assistir "Gloria", filme chileno: SOLIDÃO. 

Assim escrita em caps lock fica até mais amedrontadora, quase fatal. Mas que no entanto é algo que todos nós deveríamos estar acostumados e ainda assim negamos, fugimos e abominamos. Eu, que às vezes preciso ficar sozinha para pensar e respirar, jurava que a solidão não me incomodava, até que em fevereiro de 2013 tive um leve quadro de angústia.

Não sei o que deu o start (mentira, sei sim, só não quero prolongar o assunto), mas de repente me vi indo fazer uma viagem sozinha para o exterior e fiquei com muito medo. Não queria ficar sozinha, acreditando que a ilusão de ter alguém ao me lado me traria segurança.

Fui chorando e consegui enfrentar o meu medo. Não o matei, só venci a primeira batalha, mas fiquei muito feliz depois. Fiquei feliz em ver há muitas pessoas passeando por aí com sua solidão e se abrindo à novas situações e realidades. E o mais legal disso tudo foi justamente encontrar em uma pessoa estranha, do outro lado do mundo, um carinho e um afeto que não consegui encontrar nos meus amigos de anos.

Um gesto muito simples que me fez chorar que nem criança. Justo eu, que não gosto de chorar na rua ou na frente das pessoas, chorei na chuva. "Não tenhais medo", estava escrito bem na minha frente e eu ali, chorando.

O que eu ia dizer quando comecei a escrever essa parte 2 é que, além da solidão, deixamos pedacinhos de nós em alguns lugares. Deixamos com as pessoas também, mas o difícil é enxergar que nos deixamos nos lugares. E vamos embora, algumas vezes para nunca mais retornar.

Será que o medo da solidão é o medo de se perder? Ou de se fragmentar em tantos pedacinhos e nunca mais conseguir juntar de novo?

Citando outro filme, Trem noturno para Lisboa, em dois momentos do filme é dito algo como:

"Deixamos algo de nós para trás ao deixarmos um lugar e permanecemos lá apesar de termos partido. E há coisas que só reencontramos lá voltando. Viajamos ao encontro de nós ao irmos a um lugar onde vivemos uma parte de nossa vida. Mas ao irmos de encontro a nós mesmos, confrontamos nossa solidão."

Aí entro em contradição. A solidão nos ajuda a nos encontrarmos ou a nos perdemos?

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