A senhora, a máquina e Jesus
Recebi esse texto por e-mail da Iara, que por acaso é filha da heroína da estória (hehe). Tanto ela, quanto sua mãe, Vânia, são minhas novas parceiras de filmes e ótimas conversas de bar. Bem, a seguir o texto escrito pela Iaiá!
baseado em fatos reais (e surreais).
Tudo começa quando uma senhora de uns 40 e tantos anos está atrasada para reunião. Um tanto quanto frenética ela chega atá a máquina de xerox, desesperada por tirar muitas cópias. Vale ressaltar que a situação em si já é um pouco estressante porque a senhora em questão e as máquinas em geral não se dão tão bem, é uma relação difícil entre dedos e botões. Se pudesse, essa senhora escreveria todo o conteúdo quantas vezes necessário ao invés de depender de um botão de copy.
Com toda essa tensão no ar, a senhora parte para sua empreitada mulher-máquina, resignada com seu bloqueio inerente. Coloca o primeiro papel e com toda esperança aperta o temido botão verde - "copy". A máquina, sem a menor preocupação com a ansiedade de sua usuária, que está atrasada para uma reunião com diretores, ignora por completo o comando. Mais uma tentativa. E em seguida a frustação. A senhora então começa a externar, em volume moderado, seus sentimentos de puro ódio direcionados à máquina. Praticamente ao mesmo tempo, em ato já desesperado, começa a apertar os outros 397 botões a sua frente, com a absoluta incerteza do que está fazendo.
Nesse momento, um barulho começa a sair da máquina em questão e um pingo de esperança cai sobre a senhora. "Ufa", ela pensa. A máquina então resolve demostrar toda sua capacidade e papéis começam a sair, sair e sair. A senhora agora se tranquiliza, olha para os papéis com aquela expressão de "eu sabia que era fácil, mas que bobagem, com medo desse grande cubo de plástico". Mas sua tranquilidade dura pouco. A máquina, como se tivesse escutado os pensamentos seguros e com certo tom de deboche dessa senhora, responde de maneira radical. Os papéis não param de sair. A senhora se desespera, uma vez que esta é só a primeira página e ela ainda tem algumas dezenas a sua frente para serem copiadas. E as cópias não param de sair. Nenhuma tentativa da senhora em apertar qualquer botão ao seu alcance, é capaz de parar essa máquina e seu desejo de tirar cópias.
A paciência da senhora já está ultrapassando o limite e o volume de sua externalização do ódio para com o maquinário a sua frente aumenta. Pessoas a sua volta começam a reparar a insatisfação da senhora, mas nada fazem. Nisso, como um chamado divino, o rapaz para assuntos aleátórios ou TI da empresa surge ao lado da senhora já desesperada. Ele reconhece a situação um pouco calamitosa, a revolta da senhora a frente de uma máquina igualmente desconcertada, cuspindo papéis que já começam a cair pelo chão. É nessa hora que ele precisa agir, como o verdadeiro super-herói da história salvando a vítima do monstro predador. A senhora repara a presença do rapaz. "AH! Até que enfim, me ajuda, esse trem começou a cuspir os papéis do nada, ela não me obecede, faz ela me obedecer, tenho uma reunião agora!!!" O rapaz entra em ação, aperta os devidos botões, diferentemente da senhora, com absoluta certeza do que está fazendo. Mas a máquina não se deixa vencer tão fácil e ignora por completo as tentivas do aparente héroi.
O rapaz e a senhora recorrem, então, à todas alternativas e atos que conhecem - palavras, comandos, xingamentos, tapas e chutes. Tudo, no entanto, é em vão. Mas a senhora não se dá por vencida, apesar da exaustão física e mental.
No meio da verdadeira luta, uma moça sai de seu cubículo com um olhar fixo no vazio e uma certeza de que sempre soube a solução para o problema em questão. Ela chega de maneira sorrateira ao caos e quase como um sussuro, dirige a palavra a senhora: "Calma, pede para Jesus". A senhora, totalmente tomada na situação em que se encontra, não compreende muito o que a moça diz e fala "Ahn, o quê? Jesus? Quem?" "Sim, pede para Jesus que tudo vai funcionar". A senhora imediatamente se dirige ao rapaz "Vamos, chama lá o Jesus então, para ele consertar esse negócio aqui!!!!" A moça continua na sua missão "Pede para Jesus, nosso salvador, ele fará essa máquina voltar a funcionar, assim como faz tudo funcionar...Aleluia, Senhor! Amém!" E começa a rezar.
A senhora então consegue perceber a real intenção da moça ao seu lado. Nesse momento, sua atenção, pela primeira vez nos últimos minutos, deixa de estar voltada para a máquina e se volta para a moça ao seu lado. Seu rosto já com marcas de um estresse profundo, começa a receber novos tons de vermelho e roxo. O sangue sobe à cabeça. A senhora se dirige à moça, com um volume mais alto, para todos ouvirem "Olha aqui minha cara, deixa eu te falar uma coisa, a não ser que Jesus seja o técnico que vai fazer isso voltar a funcionar para que eu possa entrar numa reunião agora, não me interessa suas rezas e o salvador de ninguém, eu quero mesmo que ele vá a merda! E digo mais, já aviso que eu vou pro Inferno. Sabe onde é? Meu pai que trabalhou nessa porra dessa empresa a vida toda tá lá. É lá que estão as coisas boas do mundo, sexo, drogas e rock 'n roll. Não tem vc, nem Jesus e nem essa merda dessa máquina!!!!"
A moça, depois de efusiva declaração, entra em estado catatônico. E a máquina volta a funcionar. A senhora então calmamente se dirige ao rapaz "Por favor, termina de tirar as outras cópias para mim e leva lá na reunião, tô indo para sala tá? Obrigada!!"
baseado em fatos reais (e surreais).
Tudo começa quando uma senhora de uns 40 e tantos anos está atrasada para reunião. Um tanto quanto frenética ela chega atá a máquina de xerox, desesperada por tirar muitas cópias. Vale ressaltar que a situação em si já é um pouco estressante porque a senhora em questão e as máquinas em geral não se dão tão bem, é uma relação difícil entre dedos e botões. Se pudesse, essa senhora escreveria todo o conteúdo quantas vezes necessário ao invés de depender de um botão de copy.
Com toda essa tensão no ar, a senhora parte para sua empreitada mulher-máquina, resignada com seu bloqueio inerente. Coloca o primeiro papel e com toda esperança aperta o temido botão verde - "copy". A máquina, sem a menor preocupação com a ansiedade de sua usuária, que está atrasada para uma reunião com diretores, ignora por completo o comando. Mais uma tentativa. E em seguida a frustação. A senhora então começa a externar, em volume moderado, seus sentimentos de puro ódio direcionados à máquina. Praticamente ao mesmo tempo, em ato já desesperado, começa a apertar os outros 397 botões a sua frente, com a absoluta incerteza do que está fazendo.
Nesse momento, um barulho começa a sair da máquina em questão e um pingo de esperança cai sobre a senhora. "Ufa", ela pensa. A máquina então resolve demostrar toda sua capacidade e papéis começam a sair, sair e sair. A senhora agora se tranquiliza, olha para os papéis com aquela expressão de "eu sabia que era fácil, mas que bobagem, com medo desse grande cubo de plástico". Mas sua tranquilidade dura pouco. A máquina, como se tivesse escutado os pensamentos seguros e com certo tom de deboche dessa senhora, responde de maneira radical. Os papéis não param de sair. A senhora se desespera, uma vez que esta é só a primeira página e ela ainda tem algumas dezenas a sua frente para serem copiadas. E as cópias não param de sair. Nenhuma tentativa da senhora em apertar qualquer botão ao seu alcance, é capaz de parar essa máquina e seu desejo de tirar cópias.
A paciência da senhora já está ultrapassando o limite e o volume de sua externalização do ódio para com o maquinário a sua frente aumenta. Pessoas a sua volta começam a reparar a insatisfação da senhora, mas nada fazem. Nisso, como um chamado divino, o rapaz para assuntos aleátórios ou TI da empresa surge ao lado da senhora já desesperada. Ele reconhece a situação um pouco calamitosa, a revolta da senhora a frente de uma máquina igualmente desconcertada, cuspindo papéis que já começam a cair pelo chão. É nessa hora que ele precisa agir, como o verdadeiro super-herói da história salvando a vítima do monstro predador. A senhora repara a presença do rapaz. "AH! Até que enfim, me ajuda, esse trem começou a cuspir os papéis do nada, ela não me obecede, faz ela me obedecer, tenho uma reunião agora!!!" O rapaz entra em ação, aperta os devidos botões, diferentemente da senhora, com absoluta certeza do que está fazendo. Mas a máquina não se deixa vencer tão fácil e ignora por completo as tentivas do aparente héroi.
O rapaz e a senhora recorrem, então, à todas alternativas e atos que conhecem - palavras, comandos, xingamentos, tapas e chutes. Tudo, no entanto, é em vão. Mas a senhora não se dá por vencida, apesar da exaustão física e mental.
No meio da verdadeira luta, uma moça sai de seu cubículo com um olhar fixo no vazio e uma certeza de que sempre soube a solução para o problema em questão. Ela chega de maneira sorrateira ao caos e quase como um sussuro, dirige a palavra a senhora: "Calma, pede para Jesus". A senhora, totalmente tomada na situação em que se encontra, não compreende muito o que a moça diz e fala "Ahn, o quê? Jesus? Quem?" "Sim, pede para Jesus que tudo vai funcionar". A senhora imediatamente se dirige ao rapaz "Vamos, chama lá o Jesus então, para ele consertar esse negócio aqui!!!!" A moça continua na sua missão "Pede para Jesus, nosso salvador, ele fará essa máquina voltar a funcionar, assim como faz tudo funcionar...Aleluia, Senhor! Amém!" E começa a rezar.
A senhora então consegue perceber a real intenção da moça ao seu lado. Nesse momento, sua atenção, pela primeira vez nos últimos minutos, deixa de estar voltada para a máquina e se volta para a moça ao seu lado. Seu rosto já com marcas de um estresse profundo, começa a receber novos tons de vermelho e roxo. O sangue sobe à cabeça. A senhora se dirige à moça, com um volume mais alto, para todos ouvirem "Olha aqui minha cara, deixa eu te falar uma coisa, a não ser que Jesus seja o técnico que vai fazer isso voltar a funcionar para que eu possa entrar numa reunião agora, não me interessa suas rezas e o salvador de ninguém, eu quero mesmo que ele vá a merda! E digo mais, já aviso que eu vou pro Inferno. Sabe onde é? Meu pai que trabalhou nessa porra dessa empresa a vida toda tá lá. É lá que estão as coisas boas do mundo, sexo, drogas e rock 'n roll. Não tem vc, nem Jesus e nem essa merda dessa máquina!!!!"
A moça, depois de efusiva declaração, entra em estado catatônico. E a máquina volta a funcionar. A senhora então calmamente se dirige ao rapaz "Por favor, termina de tirar as outras cópias para mim e leva lá na reunião, tô indo para sala tá? Obrigada!!"
Comentários