"Eu não sei exatamente a razão dessa loucura mas tenho a impressão de que estamos sempre em busca de distração, de coisas que nos deixem absolutamente exaustos e distantes do que somos. Ninguém mais parece ter concentração para ler um bom livro, por exemplo. Ficar quieto parece ser sempre a última opção.

Não sou - nunca fui - uma daquelas pessoas que se sente mal - como se não estivesse em dia com o aluguel - se o dia estiver bonito e ela não estiver aproveitando. Aproveitar é circular. Aproveitar é montar uma série, como as que se montam em academias, cumprir todas as etapas e torcer para que aquela sensação de missão cumprida te jogue na cama, no término do dia. Mais ou menos como o gordo quando come um pudim inteiro e depois passa o dia na academia, deixando na aula de spinning suas calorias.

Aproveitar - do verbo sacrificar-se - significa participar da gincana que faz com que as horas passem mais depressa. Estamos tão 'felizes' que nos programamos - mesmo que inconscientemente - para que o tempo voe e a gente não corra o risco de parar para pensar e perceber que algumas coisas devem ou podem mudar. Poucos aprofundam conversas. Poucos questionam as regras e muitos seguem o enterro sem saber quem é o defunto.

Pouquíssimos percebem que os frenéticos estão frágeis. Quase em coma emocional. O colapso é geral. Os robôs estão dando pau.
Um caos organizado. Diálogos previstos. Preços caríssimos, dentes branquíssimos, sorrisos montadíssimos.

Sim, aproveitar a vida - para a maioria - significa fazer parte dessa histeria. Descanso é crime. Só é bem aceito se for classificado como meditação. Ficar de pernas pro ar em casa - com o ar condicionado ligado - é coisa de vagabundo ou deprimido, além de ser ecologicamente incorreto. O modelo de sucesso - que também usa o ar condicionado - vai da praia para casa, da casa pro restaurante, do restaurante pro teatrinho, do teatrinho pro sorvete. Do sorvete pro shopping. Do shopping para um chopinho. E do chopinho para o merecido soninho. Bonitinho."

Quando recebi esse texto,  lembrei da palestra do Pico Iyer,  no tedx talks.  Eu fiquei muito impressionada quando ele conta de uma alemã no avião que simplesmente ficou quieta por 12 horas depois de ter conversado com ele.  Acho realmente que as pessoas falam demais quando muitas vezes não tem nada pra falar...
E isso,  em parte,  é um problema de nós latinos e americanos... Uma vez estava conversando com uma amiga que morava em Londres e trabalhava com uma americana e uma inglesa.  E em todo almoço a americana falava sem parar sempre que existia uma pausa.
Aí a tal inglesa olhou pra ela e perguntou por que ela ficava tão incomodada com o silêncio,  que não tem problema em estar perto de alguém e ficar calado.
Dando um pulo na estória, notei quando estava em portugual e a irlandesa que conheci não ligava quando eu ficava calada.  Já o brasileiro que conhecemos lá começava a falar quase sempre coisas aleatórias.
Acho que é como o Pico falou,  é bom não ir à lugar nenhum e simplesmente pensar.  Sem ficar olhando o celular o tempo todo,  sem pensar em trabalho,  só observando.  Sei lá,  tô viajando.

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