"Como a gente se fabrica a si  mesmo; a vida; como se inventa uma deliciosa diversão, e qualquer coisa mais. Era esquisito, e inteiramente verdade; tudo o que não se podia compartilhar... esvaía-se em pó."

"Ter feito coisas milhões de vezes enriquece-as, embora possa dizer-se que lhes tira a superfície. O passado nos enriquece e a experiência, e o ter amado uma ou duas vezes, pois se adquire o poder, que falta à juventude, de ir direito ao fim, de fazer o que bem se entende, sem dar importância aos outros, e de mover-se pelo mundo sem grandes expectativas [...]. Mas que experiência?
De beleza, pelo menos. Não a crua beleza dos olhos. Não a beleza crua e simples. [...] Era a retidão e o vácuo, por certo; a simetria de um corredor; mas eram também janelas iluminadas; um piano, um gramofone tocando; um senso de prazer oculto mas que emerge aqui ou ali [...]. ;Absorvente, misteriosa, de uma infinita riqueza, aquela vida. [...] e aquilo era de tal modo tocante; tão silenciosos estavam, tão absorotos, que a gente passava discretamente, timidamente, como ante alguma cerimônia sagrada que seria sacrilégio interromper. Era interessante."

"De qualquer modo que um dia se siga ao outro; quarta, quinta, sexta, sábado; que a gente desperte de manhã; olhe para o céu; passeie pelo parque; [...]. Afinal de contas, que inacreditável era a morte! - que aquilo devesse terminar, e ninguém no mundo saberia o quanto ela havia amado aquilo tudo; quanto, a cada instante..."

Virginia Woolf em Mrs. Dalloway

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