A não-fábula do coletivismo rodoviário

Ultimamente tenho conversado bastante sobre os ônibus e como as pessoas se portam nesse transporte coletivo, o qual pelo menos 98.9% da população (percentagem especulativa) usou pelo menos uma vez na vida. É no ônibus que todo ser humano mostra sua verdadeira face. Experimente observar as pessoas, é diversão garantida.

Eu, por exemplo, já revelei ao mundo várias facetas minhas como, por exemplo:

1. Covarde filha da puta - essa aconteceu em um dia de muito calor. Estava a mg. que vos escreve, sentada ao lado de uma grávida que, para não despentiar seus lindos cachos, mantinha todas as quatro janelas ao seu lado fechadas. Mg., abusada que só ela, num ímpeto de raiva, se debruça sobre a moça e abre a janela mais à frente com toda força. Bem, o que ela não reparou é que o brutamontes que estava sentado bem em frente à gravida estava dormindo com a cabeça na janela, e quando esta se abriu acertou em cheio a cabeça do sujeito.
O que fez mg. quando ele virou para trás p. da vida?
Quase se borrou e fez sinal com os olhos em direção à grávida, fingindo que havia sido ela a autora da ação.

2. Heroína suicida - quando nota uma moça sendo furtada em plena luz do dia mg., mais louca do que lúcida, levanta e grita para o assaltante: bandido safado! tá assaltando a menina!!!
Nem preciso detalhar que todos que estavam perto fugiram, né? Todos, menos o assaltante, que pelo visto gostava de bater boca. Mas após uns três ou quatro gritos (desculpem a imprecisão) de "pode descendo do ônibus AGORA, seu safado!", o bandido cedeu e desceu do ônibus com o rabo entre as pernas.

3. Sádica - mg. sempre ri quando o ônibus bate/freia bruscamente e as mulheres gritam histéricas.


Voltando ao que interessa (ou não), as pessoas mostram quem realmente são quando estão em um ônibus cheio. Cheio que eu digo basta estar sem nenhum assento livre para o circo ser armado. Vamos imaginar a seguinte cena: o ônibus não tem assentos livres, está indo rumo ao centro da cidade onde o trânsito lento será inevitável, e eis que entra um idoso. Eu nem digo um deficiente físico, que seria muito mais traumático, mas um mero idoso simpático. Isso já é o suficente para gerar uma onda de mal estar.

Alguns preferem olhar a "linda" paisagem do lado de fora, outros abaixam a cabeça e evitam qualquer tipo de contato visual. Já os mais radicais simulam um bocejo e dormem instantâneamente. O pensamento que rola vai de "se eu não estivesse tão cansado...", até "ah, quem tem que levantar é quem está sentado no assento reservado". Já ouvi declarações entusiasmadas contando que evitam sentar na parte da frente perto do trocador, pois é a área onde os idosos se concentram (aqui no RJ a entrada é pela porta dianteira).
As pessoas demoram alguns (em outros casos, muitos) minutos até alguém ficar com vergonha, ser solidário e ceder o lugar.

Outro caso que me impressiona nos cariocas é em relação ao ônibus mega hiper lotado. Seu ponto está chegando e tudo o que você, pessoa educada e filho de Deus, quer fazer é sair sem machucar ninguém. Puxa a cordinha e pede licença. Alguém dá? Nem vou responder. Você, em um ato desesperado, tentar passar. Alguns reclamam, outros permanecem estáticos. (Alguém tem uma arma para me emprestar?)

E as mulheres que usam aquelas bolsas gigantes do tipo Louis Vitton e ficam batendo no seu corpo? Ou as pessoas que param em fila dupla bem atrás de você, quando o corredor está cheio de espaço livre? Todas sofrem do que chamo deautismo social* e seguem a máxima do "você não existe no meu mundo privado".




*Vale ressaltar que o autismo social não é exclusivo dos transportes coletivos. Já foram observados sintomas similares em outros setores da sociedade

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