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Já repararam como a vida moderna anda cheia de... reticências? Esse espaço de tempo muito bem representado graficamente por três pontos lado a lado, pode ser cruel. Quem nunca teve seu momento reticência durante um encontro? É justamente na hora em que você quer soltar meia dúzia de palavras que o comprometeriam eternamente como, por exemplo, um "nossa, eu realmente adorei te conhecer!". Mas você retarda essa frase para algum encontro mais propício. Encontro este, que talvez nem venha. Então, em um ato desesperado você solta a-frase-mais-clichê-de-todas: "ain, o tempo anda louco, né? fez um calor hoje...", o seu par-perfeito responde com um "é mesmo..." e eis que nossa vilã entra em ação.

Reticências! Os dois não falam n-a-d-a. Os segundos estendem-se a uma eternidade, mas só quem impera é ela.

Nesse exato momento encontro-me reticente. Não que esteja no meio de um encontro íntimo e tenha resolvido escrever enquanto o rapaz fica com cara de paisagem tentando disfarçar o constrangimento. Não, não é isso. Passei o dia inteiro assim:
"-Oi, mg., vamos ao cinema?"
"-Ain..."

"E aí, como foi a noite de ontem???"
"-Ain..."

"-Nossa comi muito!"
"Hm..."

Reticências são cruéis. Cheguei ao ponto de fazer perguntas que não me interessavam afim de puxar papo, mas que nada. Mesmo que disfarçada, ela ainda estava ali. Sua sombra sorrateira. Posso até imaginar esses três pontinhos zombando de mim e comentando com o tempo: "Aí, dá uma encostada pra ela sofrer bastante! ha-ha-ha".

Não importa o contexto. Reticências são cruéis.

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